quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Não me queimem...

Não lembro-me da ultima vez em que senti medo das pessoas, na verdade, o medo vinha de todos os lados, sentia-me como se estivesse num umbral, e sinceramente, esquartejavam silenciosamente toda confiança que demorei a adquirir.

Implicavam com meu cabelo, com meu jeito de andar, implicavam com meus gostos e fechavam suas caras, sem contar que das inúmeras vezes que fui entrevistada a preencher vagas de emprego, ao perceberem o que sou, me fechavam as portas como se fosse de outro mundo, ou melhor, como se não pertencesse aquela sociedade imunda...

Agora querem me curar... Me curar de quê? Nunca estive doente, apenas não pertencia aquele corpo, não me reconhecia ou melhor, o vazio me tornava cada vez menos humana, eu não queria aquele reflexo, aquela voz, eu não pertencia aquele lugar, era como se minha pele fosse revestida de outra alma, sim, eu apenas não me reconhecia e mesmo assim, eu era crucificada..

Apedrejavam meus sonhos e mais, violentavam minhas vontades e meus direitos, e me empurravam goela abaixo um personagem que não me cabia no peito, eu não queria ser aquele tipo de ser humano revestido de ignorância, bem verdade, aquela sociedade imunda me rotulava de todos os adjetivos possíveis, e eu, NÃO OBRIGADA A ACEITAR uma identidade que não me cabia, então, eu era exposta...

Não me queimem, pois não posso abolir de mim o que sou... para os ignorantes, eu nunca fui homem, aquele corpo não me pertencia, na verdade, desde que me entendo por gente eu me via absolutamente perfeita, e sinceramente, não me venham com o velho discurso sobre como nasci, é patético, quiça, constrangedor para quem se diz inteligente...


NÃO ME QUEIMEM, pois não posso abolir de mim o que sou...

Autor: Leandro C. de Lima