domingo, 15 de janeiro de 2017

Agrados

Desenhista : Victor Matheus
Por tempos eu havia pedido a sensação de gosta de alguém, de criar expectativas, de construir sonhos, do habito de dizer “eu te amo” ao silêncio dos olhos. Por tempos, pessoas passavam por minha vida e eu, frígido, fazia de conta que eram meros coadjuvantes nesse cenário catastrófico construído por mim. Eu as evitava, ou por certas vezes transava por transar sem qualquer grau de sentimento, sim, eu era frígido, porém minha vontade era de gritar “me ame”, “não me deixe”, mas a ideia de depender emocionalmente de alguém não me permitia, e sim, continuava frígido.

Por vezes cruzei meu olhar com tantos outros na iminência de me apaixonar, mas eram tentativas frustradas, e meu desejo de gostar de alguém acabava inerte. Posto que as mesmas ilusões rabiscadas por meus pensamentos tragavam qualquer atitude que viesse tomar por medo de amar, sim, eu possuía medo, receio, e convencido desse se sentimento me fechei, cheguei a pensar que seria uma fase como outra qualquer, mas ao tomar aquele expresso frio esquecido, me dei conta do quanto a vida passava diante de meus olhos, foi então, que me peguei desenhando aquele olhar preso na memória daquele rapaz que havia me tocado o coração das vezes que o vi, será?

Não, eu não queria me apaixonar, era contraditório, confuso, mas me peguei pensando se ele gostava dos desenhos que fazia, das poesias que escrevia, se gostava dos mesmos seriados que assistia, será que ele gostava de Harry Potter? Talvez gostasse, ou talvez odiasse a ideia de gostar de alguém que beijasse com gosto de café, tem quem odeie, mas no fundo não mas me preocupava com isso, apenas desenhei o seu olhar me perguntando tanta coisa sem ter, sem sentir.


Sim, eu não mais me preocupava em agradar... 

Autor: Leandro C. de Lima

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Punhal

Desenhista : Victor Matheus
Apunhalavam seus ideias, embora soubesse que estaria diante de uma sociedade torpe e cega, suas crenças, suas verdades, lutavam consigo. Travava lutas diárias para entender a complexidade do homem, bem verdade, a involução ocorria diante de seus olhos e sem acreditar calava-se alguns minutos ao inconformismo dilacerado que o envolvera.
Então inerte, sua liberdade prendera-se naquela estranha sensação de torna-se único, intransitivo, posto que sua mente transfixava as mentiras que lhe contavam a eloquência satisfatória que lhe tomava em fúria e diferentemente dos demais, cortou os laços que o envolviam e de certa forma aquele pensamento armífero o abandonava, de certa forma, procurou compreender o opressor.
Ele homossexual aos 32 (trinta e dois) anos anos de idade, negro, enclausurado ao preconceito medíocre, intransigente, pela primeira vez a idiossincrasia de suas crenças abduziu as vozes que ali o calavam, sim, ele tomado sob o influxo repentino dos açoites que levou, tomado por aqueles que apunhalavam os seus ideias, reconstruiu o respeito outrora cego, tão cálido e sagaz, libertara-se.
Ele ao recurvo pensamento sepultou tantas vozes, sepultou tantas dores, sepultou metaforicamente um parasita social invólucro de uma intolerância vil, então, aquela mesma sociedade hodierna torpe e cega, começara a trazer consigo a capacidade de enxergar o outro sem qualquer distinção das raças, da orientação sexual ou classe que ali coabitavam, sim, era apenas um início, e ele, por mais apunhalado que fosse jamais deixou de acreditar na benevolência empírica presa a sua capacidade de amar e tornou-se liberto.

Autor: Leandro C. de Lima

Glossário:
*Armífero: sinônimo de agressivo, guerreiro e belicoso;
* Hodierna: “é um adjetivo que qualifica algo como contemporâneo, atual e moderno, ou seja, que é comum nos tempos recentes e dias atuais.”
* Invólucro: aquilo que serve ou é us. para envolver, cobrir; envoltório, envólucro, cobertura, revestimento, involutório


quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Coração Perene

Desenhista : Gualdino Pimentel
Naquele universo infinito de seu coração havia saudade, embora dilacerado, traduzia a constante razão de querer amar, uma felicidade invejável oculta nos olhos de quem o observa tomar aquele expresso sem açúcar, como ele gostava? Como conseguia sorrir?
E num instante silêncio pausado ele desenhava alguns rabiscos em seu caderno e ao mesmo tempo, analisava as pessoas que ali passavam como se as conhecesse, as cumprimentava vagamente e de fato,  ele arrancava de alguns transeuntes certa expressão de conforto, tão educado, simplório, não haviam vestígios de mágoas ainda que soubesse que no fundo ele refletia inverdades, um veludo asilado nos abraços que doou,  das mentira que ouviu e acreditou e mesmo assim, “ele traduzia a constante razão de amar”...
Interessante que ele conseguia extrair das pessoas o seu melhor, e por mais que aquela sensação o matasse por dentro, ele renascia, pois tudo era implícito, então, ele apenas amava, mergulhava em suas inspirações e sem culpa, detestava os conceitos que buscavam definir o jeito que levava sua vida, detestava os conselhos de amor como se fosse frígido, detestava aquela falsidade conveniente de pessoas que outrora se faziam presente quando necessitavam da segurança de um carinho recíproco, mas no fundo era só um vago pensamento, ele modulava suas frases, e se entregava a qualquer solidão que ali refugiava-se, pois naquele coração cabia o universo que a própria razão de existir desconhecia...
Bem verdade, naquele coração habitavam outros corações, tão perene, ele já não criava a expectativa de retorno, amava por amar, gostava por gostar, cuidava por cuidar, plantava por plantar e colhia a sensação apaziguada de dever cumprido, pois qual a razão de existir se não amar? É o mesmo que viver sem ter existido...

Autor: Leandro C. de Lima