Desenhista: Victor Matheus |
No açoite dos olhares vis que a travessavam não a inspiravam
fraqueza, ela, “escravizada” pelo pensamento opressor refletido ao preconceito
induzido não a diminuía entre os demais, e por mais que a intolerância pérfida
dos homens lhe causasse certo desgosto, não permitia que sua cultura entranhada
as raízes lhe fosse expurgada de si, como quem se apropria da identidade que
lhe dera origem, sim, Zumbi de Palmares, catarse d´alma de seus lares, levando
consigo orixás e seus guias como quem se alimenta de fé moradia santa, planta que se firma chão,
pois pobre daquele que pisa em seu coração aflito sem temer o tabuleiro da vida
que se joga ao tempo daquele que roga todas as pragas a sua felicidade sã, mal
sabiam que ela possuía todos os santos, todas as noites e rabiscava o seu
universo a cada manhã.
Órfã aos 10 anos de idade, tivera que amadurecer abruptamente,
pois não haviam espaços para interjeições ou interrogações feitas, tivera que
engolir a seco todas as lágrimas sem entender o motivo daquela partida, tão
jovem, abandonou sua infância a torta e a direita e se tornou “adulta” aos 11, na
verdade, travou a ferro e fogo todas as injúrias sofridas, palavras que mais
pareciam tiro à queima roupa a cada vez que a chamavam de “crioula” ou quando rechaçavam
sua defesa.
Porém, aquele sorriso de leite ainda marcado por tantas e outras
dores permanecia inerte, seguro, e por mais frívola que fosse as utopias que ouvira
enfrentou seus medos, dilacerou a violência entrelaçada numa sociedade pagã,
torpe e cega, e por fim quem diria que aquela menina já aos 20 e poucos anos de idade
tivera tão mais humanidade a que tantos outros que passaram em sua vida, pois na
despedida de uma infância tardia, sua alma ainda floria à espera de um jardim
regado a felicidade que jamais conheceu.
Então, órfã aos 10, adulta aos 11, refletia as dores tão necessárias e a razão do porquê sofreu, pois no açoite dos olhares vis que a travessavam não a inspiravam fraqueza, dos homens que amou e do preconceito que sofreu e por fim, se tornou MULHER.
Então, órfã aos 10, adulta aos 11, refletia as dores tão necessárias e a razão do porquê sofreu, pois no açoite dos olhares vis que a travessavam não a inspiravam fraqueza, dos homens que amou e do preconceito que sofreu e por fim, se tornou MULHER.
Autor: Leandro C. de Lima